Ele parece gostar do momento em que o bar enche e o garçom vai à sua mesa e pergunta: "Está esperando alguém? Posso pegar essa cadeira?" E faz o mesmo com a outra, e só faz a pergunta por educação, pois na verdade, já sabe que ninguém ocupará aqueles lugares.
Pois agora o homem senta na mesa com duas cadeiras, parece que ouviu o que eu pensei. Fico feliz por isso. Se eu ouvisse alguém pensar de mim o que eu pensei dele, nunca mais voltaria a sentar numa mesa com três cadeiras. Aliás, assumiria a solidão e sentava direto no balcão do bar.
Chego a pensar se algum dia ele chegará acompanhado. Ele tira o celular do bolso e checa a hora. Põe no bolso e tira pra checar a hora mais uma vez, como fazem as pessoas que olham as horas sem de fato olhar. Pede licença à recepcionista e diz que já volta. Ela deixa, pois viu que deixou o boné com a aba amassada na mesa e acredita que ele não seria capaz de sair e não voltar sem antes pagar a conta. Ela acompanha ele com o olhar e vê que pára em frente a um orelhão público. Fica lá por alguns minutos e retorna em direção ao bar.
Cumprimenta a recepcionista com um sorriso e senta novamente em sua mesa com duas cadeiras. Traz do telefonema um olhar triste e nostálgico. Bebe um gole de cerveja e olha para as duas cadeiras vazias. Toma outro gole. Tenho a impressão que ele vai para o balcão. Penso que se for, se sentirá menos solitário. E dessa forma, torço para que isso aconteça. Mas dessa vez acho que ele não me ouviu pensar. Apenas fica de pé ali ao lado da cadeira. E ao dar outro gole na cerveja tenho a impressão de que se desatou um nó que lhe prendia na garganta.