segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

eu imploro: (não) me escute

tem um copo na minha frente. não fui eu quem deixou. foi você? eu não quero saber. não me conte. não quero saber. por favor, não me conte.


eu fecho os olhos pra não saber. é mais fácil não saber. por favor, não me conte se você sabe de alguma coisa.


eu não estava lá quando aconteceu mas é como se eu estivesse. eu não vi nada, mas poderia te descrever tudo. se eu estivesse lá, eu descreveria com mais detalhes (eu não quero saber se eu estava lá, eu não quero lembrar de nada. por favor, não me conte)


as coisas não são como a gente acha. eu olho para esse copo e me pergunto quem colocou ali. eu pergunto só para mostrar que me importo. mas a verdade é que eu não quero saber da verdade. eu imploro que fechem meus olhos porque eu não quero ver. ou então apaguem as luzes, assim eu tenho certeza que não enxergarei nada mesmo que meus olhos se mantenham abertos contra a minha vontade.


não me conte o que eu não quero ouvir. eu quero simplesmente abrir os olhos e ver que já passou. que já aconteceu. só me diga coisas boas.


por favor, não me magoe, não me faça chorar. eu imploro. deixa eu deitar no seu colo, me faça cafuné. diga que você gostou do filme que assistimos, não me conte que dormiu nele o tempo todo. me diga que você precisa ir porque tem prova, não me conte que você não quer mais ficar comigo.


não me abandone, não me faça chorar. por favor, eu imploro. não me conte quem bebeu neste copo.


eu só quero saber que você estava aqui o tempo todo.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O sorriso de Laura

Laura sorria como nunca sorriu antes. Posso dizer isso com autonomia porque eu estava lá, não com aquele mesmo sorriso, nem com os mesmos olhos azuis que brilhavam como um espelho refletindo o sol, mas estava lá, e não conseguia tirar os olhos dela. Sempre quis ter esses olhos brilhantes e Laura sabia tê-los bem.

Laura é o tipo de garota que se você olha de longe a quer por perto. Ela tem um carisma que não se explica nem se ensina. Ao conhece-la melhor, você continua querendo a ter por perto. Olhe para mim: sou o típico exemplo de quem a quer o-tempo-todo-por-perto. Sei que a idéia não parece atrativa, mas esse tipo de atitute a gente simplesmente tem. Tipo o carismo dela.

Acontece que eu sei um segredo de Laura que ninguém seria capaz de descobrir, a não ser que eu fosse ela mesma, o que não é o caso - até onde sei. Talvez valha a pena contar, não sei o que ela acharia sobre isso. O que ninguém sabe, e que eu sei, é algo que se Laura soubesse, não acredito que faria algo a respeito: por teimosia, vaidade ou falta de coragem. Ainda não descobri.

Laura teme a morte. Não é esse o segredo, é apenas algo que lembrei sobre ela. Ela teme sair desse mundo antes de dizer às pessoas o quanto elas são importantes. O quanto as ama. Porque se tem algo que Laura faz, é amar.

Além de amar, ela também se afasta. Eu nunca consegui entender isso direito. Juro. Talvez se eu fosse Laura, entenderia melhor, mas ainda não consegui. Nem ser ela, nem entende-la. Às vezes ela se afunda no seu umbigo e perde de vista quem estava a um palmo na sua frente. E quando ergue a cabeça, já não vê mais ninguém. E então conto o segredo dela: Laura é sozinha.

Ela pode ter a cor dos olhos que eu não tenho, o sorriso contagiante que eu nunca consegui dar, mas o que Laura sempre teve e eu nunca quis foi sua solidão. Não duvido da felicidade dela. Não mesmo. Eu a invejo. Positivamente e negativamente. Eu quero tudo que ela tem: carisma, inteligência, beleza, amigos, talento. Quero tudo. Mas passo a solidão.

Não posso deixar que ela saiba que eu sei disso. Ficaria arrasada ao perceber que mais alguém sabe o seu segredo. Ser solitária, é incabível para alguém que se sente tão completa. E ela se sente, eu sei. Incompreensões a parte, não julgo Laura. Deve ser difícil mesmo.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

três cadeiras

Ele entra no bar e sorri para a recepcionista. Ela já sabe o seu nome e lhe dá boa noite. Ele escolhe uma mesa. Senta na que tem três cadeiras, tantas outras com duas, menos solitárias, para sentar e opta justo pela com três. Nessas outras duas cadeiras vazias poderiam se sentar a filha e a esposa que estão por chegar, ou dois amigos, ou uma namorada que usaria a outra cadeira para pôr a sua bolsa. Mas não, veio sozinho e voltará do mesmo jeito, como em todas as outras vezes.

Ele parece gostar do momento em que o bar enche e o garçom vai à sua mesa e pergunta: "Está esperando alguém? Posso pegar essa cadeira?" E faz o mesmo com a outra, e só faz a pergunta por educação, pois na verdade, já sabe que ninguém ocupará aqueles lugares.

Pois agora o homem senta na mesa com duas cadeiras, parece que ouviu o que eu pensei. Fico feliz por isso. Se eu ouvisse alguém pensar de mim o que eu pensei dele, nunca mais voltaria a sentar numa mesa com três cadeiras. Aliás, assumiria a solidão e sentava direto no balcão do bar.

Chego a pensar se algum dia ele chegará acompanhado. Ele tira o celular do bolso e checa a hora. Põe no bolso e tira pra checar a hora mais uma vez, como fazem as pessoas que olham as horas sem de fato olhar. Pede licença à recepcionista e diz que já volta. Ela deixa, pois viu que deixou o boné com a aba amassada na mesa e acredita que ele não seria capaz de sair e não voltar sem antes pagar a conta. Ela acompanha ele com o olhar e vê que pára em frente a um orelhão público. Fica lá por alguns minutos e retorna em direção ao bar.

Cumprimenta a recepcionista com um sorriso e senta novamente em sua mesa com duas cadeiras. Traz do telefonema um olhar triste e nostálgico. Bebe um gole de cerveja e olha para as duas cadeiras vazias. Toma outro gole. Tenho a impressão que ele vai para o balcão. Penso que se for, se sentirá menos solitário. E dessa forma, torço para que isso aconteça. Mas dessa vez acho que ele não me ouviu pensar. Apenas fica de pé ali ao lado da cadeira. E ao dar outro gole na cerveja tenho a impressão de que se desatou um nó que lhe prendia na garganta.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Do aeroporto pro mundo

Eu gosto de fazer as malas. Significa que eu vou viajar. Não importa por quanto tempo, pra qual lugar. Gosto de estar na estrada, conhecer lugares diferentes. Antes eu ficava fascinada toda vez que viajava de avião, talvez por ser novidade, mas acho que por ter viajado um bocado de vezes, avião decolando ou pousando não me impressiona mais, pelo contrário. Será que um dia vou deixar de me impressionar, por exemplo, pela Europa?

Estar de partida me agrada, não sei na verdade por qual motivo. Já falei mil vezes que sinto não pertencer a minha cidade, e que talvez a nenhuma outra. Porém, o que me incomoda partir é ter que deixar as pessoas que eu gosto e me fazem bem. Ultimamente eu assumi duas posturas na minha vida: não me preocupar demais e não me apegar muito às coisas e pessoas, pois eu sei que um dia vou partir e terei que os deixar.

Seja lá quando e pra onde eu for, sei que levarei comigo um pedaço de cada pessoa que faz parte da minha vida. E assim irei me moldando: sendo um pouco de mim e um pouco de quem eu gosto. Não tem aquela história que ficamos parecidos com nossos amigos? É isso. E o lugar que eu deixar, ficará um pedaço de mim. Gosto da idéia de deixar nas pessoas um pouco de mim também. Me dei conta agora que outra coisa que eu sempre quis, além de viajar pelo mundo, é deixar minha marca por onde passo. Gosto quando as pessoas lembram de mim por coisas que eu fiz ou falei, quando lêem algo meu, assistem algo que eu fiz e ali, me reconhecem.

Acho que isso tudo se trata de sentir saudade. Porque eu tenho essa vontade fulminante de sentir saudade das pessoas? Talvez a graça de partir, seja voltar. Mas e se o plano não for voltar? Digo, não é uma viagem por alguns dias, é um planejamento de vida: é daqui, pro mundo, é lígiapromundo. Se eu viajar mundo afora, eu volto? E se eu voltar, como será? As minhas pessoas ainda serão as minhas? Eu ainda serei delas? Ainda estarei formadas por aquelas pessoas que deixei, ou estarei por outras?

Não canso de me perguntar o que eu realmente quero da minha vida. Hoje eu acordei concluindo que eu mudei, que não sou mais a Lígia de 18 anos, quando entrou na faculdade. Eu tenho 21 agora, e acho que ainda tô longe de ser quem eu serei aos 26, mas não tanto quando eu estava aos 15. E afinal, quem eu quero ser? Aonde eu quero estar? Estarei fazendo o que aos 26? Vou estar ilegal em algum país? Com um filho? Com dois? Casada, separada, morta? Famosa, desconhecida, com quantos filmes lançados, quantos livros publicados? Algum, afinal? Quanto mais eu penso, menos eu sei. E essa, já tinha concluído a um tempo atrás, deveria ser minha terceira postura de vida: não pensar tanto tempo naquilo que ainda não tem resposta. Pra tudo tem sua hora, Lígia. Já repeti isso umas tantas vezes. As respostas sempre aparecem na hora certa. E enquanto não chegam, a única coisa que me resta fazer é me divertir. Aproveitar meus amigos, meu namorado, minha família. Construir hoje o que eu quero ser agora. E amanhã, deixa pra amanhã.

Bom, chegou a hora do meu embarque. Em duas horas chego na minha cidade de novo. Curiosamente estou ansiosa pra voltar.

Um beijo a todos vocês que me fazem bem, que me fazem querer ficar aqui. E não é preciso citar nomes, cada um sabe da importância que tem pra mim.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Alice

Alice já tinha se acostumado a ler no ônibus. Aliás, para ela, esse era o único lugar em que as leituras fluíam e agora, sem suas viagens diárias, não conseguia ler quase nada. Então, em um dia cinza e chuvoso, Alice resolveu ir até o ponto de ônibus mais próximo e pegar o primeiro que passasse. Sentou-se no ponto e contou as moedas. Esperou abrir o livro dentro do ônibus para não interromper a leitura. Ela gosta mesmo ler várias páginas sem interrupções.

O ônibus demorava para chegar. Lembrou-se que naquele ponto realmente passavam poucas linhas. Enquanto esperava, observava as pessoas na rua. Viu um casal passando. Notou que ele estava chateado com ela. A garota tentou pegar na mão do namorado umas duas vezes e ele esquivou nas duas. Pararam pra discutir um pouco. O garoto falava enquanto ela ouvia com a cabeça baixa. Alice achou que ele disse a ela algo que não deveria. A garota levantou a cabeça e saiu brava. Ele ficou olhando a namorada ir embora. Ela olhou pra trás e gritou algo que Alice não conseguiu ouvir. Podia ter sido "Eu te amo, idiota". Mas achou que foi "Me esquece, idiota". Ele não voltou atrás dela. Alice pensou que não voltaria também, apesar de não saber quem fez o que de errado.

Alice então se distraiu com um senhor que passeava com o neto e o cachorro. A criança tentava guiar o cachorro pela coleira, mas o cachorro era forte demais e quase derrubava a criança. O avô achava graça apesar do neto se sentir envergonhado por não ter forças para levar um labrador para passear. Mas era labrador. Altamente compreensível umas criança de uns 6 anos não conseguir segurar. Alice lembrou do cão que teve na infância. Pensou em ter outro, mas logo em seguida se deu conta que seu futuro incerto não permitiria a responsabilidade de cuidar de um cachorro. Mas vontade não lhe faltou. Pensou em se oferecer para cuidar do cachorro do vizinho quando ele fosse viajar. Ficou de fazer isso quando voltasse para casa.

Enfim o ônibus chegou. Por pouco Alice o perde. Mas conseguiu ver a tempo. Subiu e pagou com moedas. O cobrador ficou feliz com o tanto de moedas trocadas enquanto Alice pensava que poderia ter colocado elas no cofrinho e pagado com a nota de 20 que precisava trocar. Mas deixou por isso mesmo. Sentou na cadeira mais alta do ônibus, aquela que fica em cima da roda. Para ela é a melhor que tem. Colocou a bolsa na outra poltrona para evitar que alguém sentasse ao seu lado. A graça de ler livro é ler sozinho. Para Alice, todas as pessoas que sentam ao seu lado enquanto lê, lêem junto com ela. E isso a deixa bastante desconfortável. Enfim abriu o livro e começou a ler. Tinha recém chegado a metade do livro. As vezes olhava para a cidade. Aquele trânsito de horário de pico combinava muito com a neblina que fazia desde de manhã. Leu alguns capítulos. Sentiu-se feliz com o que lia, apesar de que o que lia ser um tanto quanto triste.

Chegou até o ponto final do ônibus e teve que descer. Já havia lido mais do que planejava. Entrou em um café e pediu um pão de queijo e um suco. Refletia sobre o que lia enquanto comia. Se distraía olhando para o nada. De alguma forma que não entendia, e nem lhe cabia entender, sentiu-se plena. Sorriu sozinha. Pagou o lanche e voltou para casa.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

números de breve presente

Já faz um tempo que não escrevia. Já faz um tempo que não pensava no que escrever. Já faz um tempo que mais me arrisco que empaco, que mais me expresso que remoo, mais danço que canto, mais me divirto que apodreço. Já faz um tempo que não me dou conta do tempo que tem passado.

Em agosto eu pensava no agosto do ano anterior. Em setembro, eu penso em janeiro do ano seguinte. Posso até me limitar a dezembro desse ano. Onde praticamente tudo a respeito do meu futuro (leia-se: breve presente) estará resolvido/ encaminhado/ decidido. 

Estou eu aqui: a menos de um mês para a filmagem do TCC. Menos de dois meses para inscrição em possíveis mestrados. Menos de três meses para o fim do curso. Menos de quatro meses para viagem pela américa latina (isso me faz lembrar dos oito anos que se passaram desde a primeira vez que pensei nessa viagem). Menos de cinco meses para experiência no exterior. E chega. Meu futuro daqui a seis meses é completamente incerto. (pelo menos nesse setembro).

Em março de 2010, por deus, onde eu vou estar? na austrália? em buenos aires? em curitiba? em porto alegre? em floripa? em qualquer outro lugar que eu jamais cogitei estar? 
Enquanto me desespero com a idéia de não saber do futuro (leia-se novamente: breve presente), me preocupo com o filme que tenho que dirigir, com as inscrições que tenho que fazer, com a viagem que tenho que planejar, com o inglês que tenho que reaprender. E olha.. pensando bem, março de 2010 que venha.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Um ano depois

Teimei em rever Na Natureza Selvagem. Passou no domingo na tv, mas tava muito cansada e dormi. Reprisou agora, e de novo tentei ver. Mas não dormi. E como poderia?

Durante o filme, me dei conta que a primeira vez que o assisti foi no ano passado. Agosto de 2008. Na época em que vi, meu mundo tava todo revirado. Alguém tinha passado por ali, e bagunçou tudo. Puxou meu tapete, chacoalhou minha cabeça, deu um chute na minha bunda e ainda ficou me vendo jogada no chão, chorando minha desgraça e foi embora sem estender a mão. Enquanto eu assistia o filme, um nó se instalou na minha garganta. Não desatei tão cedo. Ficou ali, latejando, me impedindo de pensar, de comer, de viver direito. Um mês antes, eu estava me preparando pra finalmente dar o fora daqui. Ia embora de vez. Mas em agosto tudo deu errado e tive que ficar. Tive que ficar e assistir aquele filme. Tem castigo maior? Alexander Supertramp, poderoso de si mesmo, com a cara, a coragem e todo dispreendimento possível foi e fez o que eu ia/queria/sempre quis e ainda quero fazer: me libertar.

Depois desse mês de agosto de 2008, fiquei um bom tempo perdida, tentando entender ao menos um pouco do que se passava comigo. Foi um processo longo e doloroso. Mas sabe do melhor: eu entendi. Talvez agora, que assisti pela segunda vez, um ano depois, eu tenha entendido realmente tudo que precisava entender.

Posso dizer aqui com orgulho, que esse um ano que se passou, foi o melhor um ano que eu poderia ter. Não tiraria nada. Não colocaria nada. Preciso continuar vivendo, amadurecendo, crescendo e me jogando por aí, mundo afora. Em agosto de 2010 minha vida vai estar totalmente diferente do que sempre foi. Não faço idéia de como será, e agora não me preocupo com isso. O que importa é que eu sei disso tudo, e que da minha vida eu quero muito mais.