Cheguei de viagem, subi com as malas e as compras do mercado. Abri a porta e ao botar a chave do lado de dentro percebi uma coisa: minha mãe não está. De costas pra casa, ninguém veio me receber; não havia um som sequer. Percebi outra coisa: a minha cachorra também não está. Estou sozinha. Olhei para a sala, e aquele grande espaço sem móveis algum pareceu maior ainda, pois nem a cama da Lazy estava mais ali, naquele cantinho. O silêncio nunca foi tão grande. Guardei as compras e trouxe a mala pro meu quarto. Liguei o computador e chequei os e-mails. Ninguém vinha entre minhas pernas pedir carinho, nenhuma alma se apoiava na minha perna, arranhando meus braços tentando alcançar a lingua no meu rosto.
Agoniada, fui pro sofá. Liguei a TV e me dediquei a trocar de canais compulsivamente. Esqueci o quanto a TV é ruim, principalmente nos finais de semana. Logo começou O Poderoso Chefão. Foi ele então o escolhido. Quando percebi que tava esticada ocupando todo o espaço, dobrei as pernas e bati duas vezes no sofá para a Lazy vir deitar comigo ali. Ela sempre vem e usa minhas pernas como travesseiro. Mas ela não veio. "A Lazy não tá, Lígia". Mudei de posição e continuei assistir o filme. Como de costume, peguei no sono. Levantei pra ir pra minha cama eram meia noite e pouco. Já estava começando O Poderoso Chefão 2, mas seria demais pra mim, não aguentaria 10 minutos acordada. Eu tava realmente cansada. Antes de ir pro meu quarto, apaguei todas as luzes. Fui na área de serviço checar se ainda havia comida pra Lazy. Mas em vão. Deitei na minha cama, li um pouco antes de dormir e logo apaguei.
Hoje eu acordei com o som das patinhas dela no piso de madeira. Tudo coisa da minha cabeça. Nossa, como ela me faz falta! Abri meus olhos e vi se ela tava deitada no tapete do lado da minha cama, como sempre acontece quando durmo com a porta aberta. Não, ela não tava. Não precisei rolar na cama, pro lado da parede com receio que ela se apoiasse na cama tentando me alcançar pra fazer carinho (as unhas afiadas mais machucam que fazem carinho, mas vai explicar pra ela...). Levantei e olhei de novo para o canto da sala que fica a caminha. "A Lazy não está, Lígia". Tive que repetir algumas vezes até enfim acordar.
Fui na cozinha fazer um lanche. Mas antes passei na área de serviço para checar se tinha comida e água. Merda! De novo! Ela não tá. Volta só segunda. Se-gun-da. Vim pro computador de novo. E agora tô aqui, escrevendo no blog. Um momento que ela sempre vem pedir atenção. Ou se apoia na cadeira entre minhas pernas, ou sacode o brinquedo na boca fazendo sons e esfregando ele na minha perna até eu pegar dela, jogar na sala, ela ir lá correndo, buscar e ficar fugindo toda vez que eu tento pegar de novo. Eu nunca fui de sentir saudades, mas ultimamente essa palavra tem tido um significado enorme. Mas agora é esperar até segunda-feira pra então buscar minha linda cachorra no hotel. Enquanto isso vou lá ver se precisa limpar o jornal dela.
no. 028 - Apontamentos 12 (Por mim, o Instagram e o Facebook podiam falir)
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Sabe, muito me preocupa o fato de deixarmos toda a nossa memória de vida
presa em rede sociais. Pensa uma coisa: se a empresa do Facebook fechar as
porta...
Há 3 anos